- Café com seu dinheiro
- Posts
- Café com seu dinheiro: 08/10/2025
Café com seu dinheiro: 08/10/2025
Bolsa despenca, dólar sobe e o mercado derrete entre medo fiscal no Brasil, techs fracas nos EUA e prejuízos bilionários com COEs da Braskem e Ambipar.
Resumo de hoje:
Queda da bolsa brasileira e alta do dólar 📉💵
Desvalorização das big techs nos EUA após balanço fraco da Oracle ☁️
Incertezas fiscais com reforma do Imposto de Renda e IOF 🧾
Debate sobre isenção de tarifas de ônibus e temor de populismo 🚌
Limitação do saque-aniversário do FGTS e impacto no crédito 💰
Perdas de até 93% em COEs ligados a Braskem e Ambipar ⚠️
Efeito combinado: desconfiança, fuga de capital e mercado nervoso 🌪️
O dia foi amargo nos mercados: o Ibovespa despencou 1,57%, o dólar subiu 0,75% e até o S&P 500 caiu 0,40%, puxado pelo tombo da Oracle, que divulgou lucros fracos em seu braço de computação em nuvem, setor vital para gigantes como a OpenAI. Como 40% do S&P está concentrado nas 10 maiores techs, qualquer tropeço pesa. O clima global azedou e contaminou o Brasil, onde a desconfiança fiscal voltou a dominar: incertezas sobre a reforma do IR, cortes nas compensações do IOF e falas sobre tarifa zero para ônibus aumentaram o medo de populismo e gasto público em ano pré-eleitoral. Resultado: fuga de capital, dólar forte e juros futuros em alta.
No cenário doméstico, o governo ainda mexeu no saque-aniversário do FGTS, limitando o adiantamento a R$2,5 mil e cinco anos, o que deve reter R$84 bilhões até 2030 no fundo, mas reduzir crédito e consumo. E, pra piorar o humor, investidores viram COEs atrelados a Braskem e Ambipar derreterem até 93%, após cláusulas de vencimento antecipado dispararem com a queda dos papéis dessas empresas. O saldo do dia foi um mercado nervoso, desconfiado e avesso a risco: tecnologia fraca lá fora, risco fiscal aqui dentro e confiança escorrendo pelo ralo — a tempestade perfeita para o investidor brasileiro.
☁️ 1. Lá fora, o arranhão que veio da nuvem
Tudo começou nos EUA, onde o setor de tecnologia, aquele mesmo que parecia imortal, levou uma pancada inesperada. Um relatório mostrou que o braço de computação em nuvem da Oracle, gigante avaliada em mais de US$ 810 bilhões, relatou lucros bem abaixo do esperado.
Pra quem não acompanha, essa área é o coração de serviços como os que atendem a OpenAI (criadora do ChatGPT) e diversas empresas que dependem de servidores na nuvem. Ou seja, se a nuvem da Oracle tropeça, uma parte do ecossistema da inteligência artificial espirra.
A ação da empresa caiu 2,5% e arrastou com ela o humor de todo o mercado. E aí vem o ponto crucial: 40% do S&P 500 está concentrado nas 10 maiores empresas de tecnologia do mundo.
Isso quer dizer que o mercado americano, hoje, é quase um condomínio de luxo com poucos moradores. Se um deles deixa a luz acesa, a conta de energia de todo o prédio aumenta. Ontem, foi justamente isso que aconteceu: os grandes fundos começaram a realizar lucro e o índice sentiu.
Investidor ficou com medo de que o ritmo de crescimento da IA e da nuvem já esteja perdendo tração. E se as “techs” desaceleram, o resto da economia, que depende da confiança delas, desacelera junto.
Resultado: clima de aversão a risco no mundo inteiro. E quando o gringo sente medo, ele corre pra onde? Pro dólar. Sempre o dólar.
💸 2. O reflexo no Brasil: risco fiscal é a tempestade perfeita
Enquanto o gringo corria pro dólar, o investidor brasileiro olhava pra Brasília e dizia: “é, não tá ajudando também”. Por aqui, o que pressionou o mercado foi a desconfiança nas contas públicas.
O governo tenta fechar a conta do Orçamento de 2025 com reforma do Imposto de Renda, compensação do IOF e alguns “remendos” fiscais. Mas a cada fala, a cada emenda, a confiança balança um pouco mais.
📊 O problema das compensações
Na teoria, a reforma do IR seria neutra: tira de um lado, coloca do outro, ninguém perde.
Na prática, o Congresso vem cortando justamente as partes que aumentariam a arrecadação, deixando só as que custam dinheiro. O relator da MP do IOF, por exemplo, retirou o aumento da tributação de bets, que subiria de 12% para 18% da receita bruta.
Seriam R$ 1,7 bilhão a mais pros cofres públicos. E não para aí: o novo texto também manteve a isenção de LCI e LCA, que renderiam outros R$ 2 bilhões se taxados. Mas agora, com a mudança, a previsão de arrecadação pra 2026 cai R$ 3 bilhões. E o pior: a Medida Provisório do IOF perde validade hoje, se não votar, perde validade tudo e volta pra estaca zero.
A meta era levantar recuros pra ajudar a bater o superávit primário de 2026. Com essas concessões, a conta não fecha nem com jeitinho. Investidor olha e pensa:
“Se o governo está gastando mais e arrecadando menos… quem paga a conta?”
Spoiler: o mercado, na forma de juros mais altos e Bolsa mais baixa.
🚌 3. A cereja do bolo: tarifa zero e medo de populismo
No meio da bagunça, representantes do governo voltaram a comentar a ideia de isentar tarifas de ônibus. Na prática, seria um projeto social relevante, mas caro.
Sem fonte clara de compensação, o mercado entendeu como mais sinal de aumento de gasto num orçamento já pressionado.
Num ano pré-eleitoral, toda medida populista acende o alerta:
o receio de que 2026 traga gasto extra e inflação lá na frente.
🏦 5. O novo freio no saque-aniversário do FGTS
Se o tema fiscal já estava confuso, o governo resolveu mexer também num vespeiro popular: o FGTS. Ontem, o Conselho Curador aprovou novas regras que limitam a antecipação do saque-aniversário.
Agora, o trabalhador só poderá antecipar até cinco anos e no máximo R$ 2,5 mil.
Na prática, significa que cada pessoa poderá usar apenas cerca de R$ 500 por ano como garantia de crédito.
Pra lembrar: o saque-aniversário foi criado no governo Bolsonaro e virou uma febre.
Mais de 29 milhões de pessoas já anteciparam R$ 70 bilhões no total.
Só que o governo atual diz que esses saques enfraquecem o fundo, já que o dinheiro sai e não volta. Com as novas regras, estima-se que R$ 84 bilhões fiquem retidos até 2030.
O problema é que o FGTS rende 3% ao ano + TR, enquanto a inflação gira perto de 4%.
Ou seja, o trabalhador perde poder de compra, o consumo cai e o crédito encolhe.
O setor financeiro, que usava essa linha como “carro-chefe” pra crédito consignado, já chiou. É menos dinheiro circulando, menos receita e menos crédito fácil.
Na ponta, o governo até melhora o caixa do fundo, mas tira liquidez da economia real.
📉 6. COEs da Braskem e Ambipar: a dor de quem achava que era “renda fixa turbinada”
Pra fechar o dia com um nó na garganta, o mercado ainda digeriu as perdas de até 93% em alguns COEs (Certificados de Operações Estruturadas) atrelados a bonds da Braskem e da Ambipar.
O COE é aquele produto híbrido que junta renda fixa + derivativo, e costuma ser vendido com a promessa de “retorno potencial maior”.
Mas o “potencial” às vezes vem com o outro lado da moeda: o risco.
No caso desses COEs, as estruturas usavam dívidas em dólar dessas empresas e faziam troca cambial para real com derivativos.
Tudo ia bem enquanto as ações iam bem.
Só que havia uma cláusula de vencimento antecipado: se os papéis de divida de referência no exterior caíssem mais de 50%, o COE era liquidado.
E foi exatamente o que aconteceu.
Quando olhamos para as ações aqui no Brasil, a Ambipar acumulou queda de 94% no ano e a Braskem, 44%, refletindo a preocupação dos investidores com as duas companhais.
🧠 7. O que tudo isso ensina: o humor do mercado é volátil como o carioca na chuva
O dia de ontem deixou uma lição clara:
quando o mundo respira medo e o Brasil fala em gasto, o investidor foge.
Cada peça se encaixou pra formar o mesmo quadro:
Techs balançando nos EUA derrubaram confiança global.
Governo brasileiro com discurso fiscal frouxo aumentou o risco interno.
FGTS travado e COEs derretendo tiraram apetite de quem queria investir.
🧩 Moral da história
O mercado financeiro é como um organismo nervoso: qualquer espirro em Washington, tosse em Brasília e soluço em São Paulo geram febre.
E o que fazer quando tudo parece derreter?
Nada de desespero.
É hora de entender o contexto, não de correr pro primeiro investimento milagroso.
Ontem foi o retrato de um mercado que está sem paciência e sem margem pra erro.
Um investidor global com medo de tech, um governo brasileiro gastador e uma economia local sem impulso.
Mistura perfeita pra azia generalizada.
Mas o bom é que, depois da tempestade, vem o aprendizado:
quem sobrevive a dias assim, volta mais crítico, mais cético e, se for esperto, mais seletivo.
O mercado ensina, às vezes de forma cruel, que “rendimento garantido” não existe.
E que o humor dele muda tão rápido quanto a maré na praia de Copacabana. 🌊
🖼️ Quer anunciar para os nossos mais de 25 mil leitores? É só clicar aqui.
Até amanhã